sábado, 23 de novembro de 2013

A Escola Inglesa

Na dúvida de por onde começar, fiquei com o meu coração. A escola Inglesa é a minha preferida, apesar da forte disputa com a Belga, assim esperem opiniões extremamente apaixonadas aqui, ok? Bom, comecemos do começo. Do que se trata a escola Inglesa? Como falamos aqui, a escola apresenta uma gama considerável de opções, desde cervejas mais leves até fortes pancadas nos sentidos. Mas os vários estilos que compõem esta família, apresentam, em sua maioria, um destaque maior nos sabores do que em aromas.
 

Para falar de cerveja inglesa, temos que começar pelas Pale Ales. Simplesmente, uma Ale clara (pale) o estilo é na verdade um oceano de variedades. Variam em cores desde o amarelo pálido até versões não tão "pales" assim. Apresentam uma variação bastante ampla também de amargor e carga de malte. É, na verdade, mais uma "super categoria" do que um estilo propriamente dito. Mas há grandes cervejas classificadas assim e este costuma ser o primeiro estilo que os cervejeiros caseiros costumam experimentar em suas panelas e micro-fábricas, além de ser ótimo para começar a conhecer as brejas britânicas... Então não deixe de experimentar todas que puder! Grandes surpresas o esperam... Eu prometo! Para citar duas famosas, experimente a Old Speckled Hen e a Abbot Ale. Ambas são classificadas como ESB's em alguns sites, mas podem ser também encaixadas aqui. Além disso, há versões "da casa" em vários brew pubs pelo mundo todo. Procure e traga pra cá a sua experiência!
 
As Brown Ales, são versões mais escuras das Ales Inglesas. Geralmente levam mais malte em sua composição (que resulta na cor mais escura) e variam bastante, mas são geralmente menos alcóolicas e mais adocicadas. A Newcastle é um ícone do estilo, e pode ser encontrada com facilidade no Brasil.
 
Se no início (lá pelos anos 1500) os cervejeiros ingleses rechaçaram os lúpulos, importados principalmente da Holanda, nos anos que se seguiram, eles se tornaram as vedetes dos estilos ingleses, resultando nas tradicionalíssimas English Bitter Ales, uma derivação mais lupulada das Pale Ales. Estas se subdividem entre as "simplesmente" Bitters (Ordinary), Special Bitters (mais corpo, malte e lupulagem mais agressiva) e as Extra Special Bitters, ou ESB's, carregadas no corpo, malte e lúpulo nas píncaras e complexidade de sabor e aroma diferenciados. As cervejarias britânicas tradicionais vão apresentar várias opções nestes estilos, recomendo experimentar a Fuller's ESB e a London Pride, um ícone britânico. A Old Golden Hen, da Greene King é também uma boa opção. Todas estão disponíveis no Brasil, por importação, nas melhores casa do ramo.
 
 
Nos idos de 1700, começam a bombar em Londres dois novos estilos de cerveja, a Porter (escura) e a India Pala Ale (IPA). Se já temos um post para a IPA (que é classificada na família das Bitters), devido à história que a cerca, vamos falar um pouco mais sobre as Porters. Elas podem ser simplesmente divididas entre as Brown Porters, mais "suaves" (cuidado com a expectativa, são cervejas parrudas!) e as Robust Porters, que trazem toda a potência do estilo. Porters são escuras (às vezes de um vermelho escuro), com muito corpo. Costumam mesclar um dulçor de malte com forte presença de lúpulos e, portanto, amargor. Chocolate amargo e café são aromas esperados nas integrantes do estilo. Novamente a Fuller's tem uma grande opção para começar a conhecer a família, a London Porter.
 
Da Porter, os cervejeiros evoluíram para as Stout Porters, versões extra-fortes da morena inglesa. Posteriormente surgiram outros subestilos. A Dry Stout se popularizou no mundo pela Guinness. É uma cerveja mais seca, com menos corpo, resultando numa Drinkability surpreendente (já tomei 13 Pints numa única noite, apesar de não recomendar que você tente fazer isso em casa). As Foreign Stouts, são versões extra-fortes da Dry Stout. A Guinness tem uma versão Extra Export Stout, menos comum mas também presente no Brasil. A Sweet Stout, reforça os aromas de chocolate e caramelo da cerveja e é o estilo de Stout mais característico na Inglaterra. A Oatmeal Stout (ou Farm Stout), acrescenta Aveia ao Sweet Stout, resultando em uma cerveja com muiiiiittttooooo mais corpo, que geralmente tem a graduação alcóolica e o sabor também intensificados. Você encontra representantes destes últimos dois estilos geralmente bem identificadas no rótulo. Finalmente, fechamos com as Imperial Stouts, extremamente alcóolicas (chegam a 12% ou 14%) amargas, com sabores e aromas intensos e muito corpo. Algumas são denominadas Russian Imperial Stouts, alusão ao foco de exportação destas para a Rússia, pelo apreço destes por bebidas fortes. A DUM Cervejaria produz uma pérola deste estilo, a Petroleum (que tem alguns lotes feitos pela Wals também) e a Colorado produz a Ithaca, uma das melhores cervejas que já tomei. Ambas imperdíveis.
 
 
Para fechar, temos que citar as Old (ou Vintage) Ales, cervejas fortes e maltadas, que costumam apresentar grande complexidade de sabor e aromas, verdadeiras pérolas. Não são para os fracos nem para os iniciantes, mas grandes experiências para os apreciadores do estilo. A definição do estilo se mistura com as Barley Wines (literalmente, vinhos de cevada). Deixe para o final da noite, na maioria dos casos e harmonize com um tira gosto parrudo (queijos fortes ou comidas picantes) e seja feliz! Hen's Tooth, Strong Suffolk Vintage Ale, Old Crafty Hen, Abbot Reserve e a impagável Thomas Hardy's Ale, são exemplos fantásticos do estilo.
 
Há outros estilos "menos importantes" (com aspas, por favor), seja por terem decaído ao longo do tempo, pela aparente simplicidade (comparados aos outros) ou simplesmente pela falta de opções, tornando-os quase "estilos-nicho". Mas creio que caiba citá-los aqui, para dar uma ampla cobertura ao tema. O primeiro são as Milds, literalmente cervejas mais suaves. Podem ser interessantes para os iniciantes e como curiosidade, mas não tenho muitas delas na minha lista de prediletas. As Cream Ales, estilo aparentemente Irlandês, representado pela bela Wexford Irish Cream Ale, se misturam com as Golden Ales, numa espécie de variação marqueteira (ou mais técnica, para os amantes do BJCP) das Pale Ales. Há muitos nomes, mas como a coisa já ficou grande demais, paremos por aqui.
 
A título de curiosidade, falando de cerveja inglesa, cabe mencionar o movimento Campaign for Real Ale (CAMRA). Ele começou em 1971 como uma organização voluntária de quatro ingleses revoltados com o domínio do mercado por cervejarias de massa, produzindo cerveja de baixa qualidade e sem sabor ou aroma. Hoje em dia o movimento é controverso, já que ele propõe que as cervejas tem que ser servidas no barril em que são fermentadas, o que dificulta a refrigeração e inviabiliza processos industriais como a carbonatação artificial, pasteurização e filtragem. É o processo tradicional de produção e realmente mantém a cerveja com mais sabor e aroma, perdidos na filtragem e na pasteurização, mas inviabiliza transportes a longas distâncias e reduz drasticamente a resistência da cerveja ao tempo. Como há cervejas industriais inglesas de alta qualidade, a real necessidade deste tipo de "radicalismo" é contestada por muitos, mas não deixa de ser uma iniciativa interessante, não é? Quem dera tivéssemos algo remotamente semelhante aqui...
 
 
Bom, e aí, gostaram da viagem? Anotaram as sugestões? Não se assustem com a aparente variedade, experimentando de uma em uma chegamos lá! E continuamos depois com mais uma "perna" da nossa volta ao mundo em incontáveis cervejas!
 
Um Abraço!
 
Rodrigo Garcia Marques

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Cervejas Presidenciais, Mel e a História Americana

Há algum tempo, pipocaram pela mídia notícias sobre o Presidente Barack Obama produzindo sua própria cerveja e servindo-a em eventos especiais na casa branca ou durante a campanha presidencial de 2012. O Huffington Post tem até uma TAG Obama Beer para arquivar as notícias ligadas ao tema. Quem olhou com mais atenção reparou que as receitas são de dois tipos: Honey Ale e Honey Porter. Há também produção de Honey Blonde Ale e Honey Brown, mas estas duas não tiveram as receitas publicadas. Antes que a oposição se manifeste, o presidente Obama comprou o kit de Homebrewing com recursos próprios, e pediu à equipe de cozinheiros da Casa Branca que o ajudasse na produção da cerveja. A escolha do mel como ingrediente comum em todas as receitas, vem do fato que a primeira dama, Michelle Obama, tem um apiário nos fundos da mansão presidencial americana, assim trata-se de uma "criação conjunta".

Depois dessa olhada, ele precisava mesmo se reabilitar com a patroa...

E ele nem é o primeiro presidente a se dedicar ao hobby de produzir sua própria cerveja. Os Founding Fathers George Washington (1º presidente americano), Thomas Jefferson (o 3º e principal autor da constituição) e James Madison (o 4º) também eram cervejeiros caseiros. A Biblioteca Pública de NY tem uma receita escrita a mão por Washington em pessoa, datada de 1757... O máximo que temos por aqui é o boato (estapafúrdio, diga-se de passagem) que a SKOL tem esse nome por uma negociação com o então presidente, Juscelino Kubitschek, que teria exigido que a cerveja se chamasse assim em homenagem a sua esposa Sarah Kubitschek de OLiveira (SKOL)... Tsc tsc...

OK, voltemos à Honey Ale do Obama... Você pode estar se perguntando:  Que diabos se parece uma cerveja com mel na fórmula? E como faço para por a mão numa caixinha da OBrahma? (Terrível, me perdoem...) Bom, para experimentar a Honey Ale Presidencial, você precisa ter os contatos (me manda uma também, por favor!) mas para conhecer uma Honey Beer, você tem outras opções...

White-House-beer-bottles
Essas são para poucos...

De forma geral, as Honey Beers são classificadas como Specialty Beers, que são cervejas com componentes não típicos nas fórmulas de cervejas e que não se encaixem bem em outro estilo. Dentro desse conjunto, você vai encontrar inúmeras opções, ultra heterogêneas entre si, como as Ginger Ales (cervejas com gengibre, não o refrigerante), cervejas com chocolate, doce de leite, boldo e várias outras estranhezas... Ah, você duvida? Então toma! A Rugbeer O'Driscoll é a "ginger ale oficial de Minas Gerais", feita pelo João Becker, hoje cervejeiro na Colorado. E tivemos, aqui em Minas, nos idos de 2011, um concurso da AcervA Mineira, que premiou na categoria Estilo Livre, brejas que homenagearam o legítimo espírito mineiro! E assim vieram cervejas com doce de leite, boldo, fumo de rolo, carqueja e outras insanidades... Isso sem falar na pérola Dado Bier Double Chocolate Stout, que leva chocolate 70% cacau da Kopenhagen (:-O)...

Mas deixando isso para depois e voltando ao mel, a mesma Colorado citada possui uma cerveja bastante interessante. Leve para os iniciados, a Colorado Appia é uma experiência para quem busca começar a navegar por estes mundos. E combina bem com um dia de sol, bem gelada na beira da piscina. Quem gostar da experiência, pode continuar a viagem com a Fuller's Organic Honey Dew, que segue a mesma proposta: refrescância com um "que" especial.

Sai fora que esse aqui já tem dona!!!

Outro gancho interessante da Honey Ale presidencial é o fato de que o presidente dos EUA resolveu fazer cerveja... Será que ele não tinha nada mais para fazer? O ponto é que o Homebrewing pode ser um hobby interessante desde que você tenha algum espaço em casa/apartamento, uma esposa/mãe tolerante (mandatório...) e algumas horas por semana para se dedicar a isso. E o investimento inicial não é nada proibitivo. Você pode partir com uma "produção na panelinha" ou com kits mais elaborados, alguns inclusive vem "prontos para começar". Vários sites contém dicas com equipamentos, receitas e fornecedores de suprimentos que você vai precisar, outros comercializam kits prontos para quem está com pressa para começar. Confie no Google e procure saber se sua cidade/estado já tem uma AcervA, que pode te ajudar a começar e sugerir caminhos para quem queira melhorar sua produção. A nossa AcervA Mineira está aqui. Lá no blog deles há links para várias outras associações de outros estados!

E aí, se interessou pelas Specialty Beers? Experimente algumas e traga sua opinião para o nosso buteco!
Prefere arriscar a fazer a sua? Me mande uma garrafa e faça um novo amigo!

E enquanto isso, continuemos a conhecer esse universo das cervejas especiais!
Até o próximo post!

Saúde!

Rodrigo Garcia Marques
@rgmarques
garciaspub@gmail.com

Causos Cervejísticos – IPA (India Pale Ale)

LibertasBãoTamém

Como bão mineiro, resolvi seguir com um post sobre uma estória, ou causo como chamamos por aqui, da cultura cervejeira. Algumas dessas histórias deram origem a estilos de cerveja, outras povoam as mesas de bar do mundo todo. Nem todas são totalmente verídicas, mas o que vale num causo é a diversão que ele proporciona, não a quantidade de verdade contida ali...Assim, vamos lá!

IPA

Muita gente costuma ter o estilo IPA como um dos seus preferidos (eu, inclusive). E pra quem está chegando, a pergunta clássica quando recebe a indicação de "beber uma IPA", é: que diabos é isso? Bom, IPA é a sigla para India (e não Indian) Pale Ale. Geralmente se apresenta com graduação alcoólica mais alta que as Pale Ales regulares, lupulagem significativamente destacada. A cor geralmente fica entre o marrom claro e um âmbar mais avermelhado, muitas vezes se apresenta com um tipo de alaranjado. O Guia de Estilo do BJCP tem todos os detalhes técnicos da coisa, mas nosso foco aqui são os causos, certo?

A história é que durante a ocupação britânica na Índia, um dos problemas presentes era manter o suprimento de cerveja para as tropas. Produzir lá era impossível, não havia cultura cervejeira local e os barris estragavam durante a viagem de navio, complicando a "exportação". Os ingleses então começaram a testar uma nova receita, com propriedades específicas que supostamente suportaria a viagem até a Índia. A teoria é que, com um grande teor alcoólico e maior carga de lúpulo, a cerveja teria uma maior resistência à contaminação bacteriana e, portanto, uma durabilidade maior, para resistir à dura viagem até a colônia. George Hodson, da Bow Brewery em Londres teria sido o primeiro a produzir uma receita no estilo e se tornou uma referência, mantendo um suposto monopólio por uma ou duas décadas.

Ships

Uma hipótese concorrente é que a proposta era apenas produzir uma versão mais "concentrada" das Pale Ales tradicionais, que deveria ser diluída no destino, facilitando o transporte de um menor volume de cerveja. Uma vez entregue no destino, os comandantes militares teriam experimentado a cerveja original e reservado para si alguns barris, para consumo sem diluição. Posteriormente, ao regressar para a Inglaterra, estes buscariam receitas semelhantes, criando a demanda para uma Pale Ale mais parruda e "caprichada".

Há controvérsias sobre ambas histórias, com argumentos que a graduação alcoólica não é tão mais alta assim (hoje isso é verdade, na época só o Dorian Gray pode confirmar) e que a carga de lúpulo necessária para fazer a diferença teria que ser muito maior (acho que os americanos estão tentando fazer isso!), mas é fato que não conhecemos as fórmulas criadas na época para termos provas científicas.

De qualquer maneira, as IPAs são queridas dos cervejeiros. Há várias opções brasileiras de qualidade e diversas importadas já aportaram nas nossas praias. Dentre as brasileiras, a Colorado Indica é uma das mais famosas, oscilou entre brilhante e regular nos últimos anos, mas certamente merece a visita. Há uma versão mais parruda, estilo que denominamos Imperial IPA, a Colorado Vixnu, para quem quiser se aventurar.

IPA-Try

Outras boas pedidas tupiniquins são a Backer Pele Vermelha (séria 3 Lobos Extreme) com seu aroma de casca de laranja, a Dama Bier Indian Lady (ambas IPAs Honestas e com excelente custo/benefício) e a Seasons Green Cow IPA, que também tem uma irmã imperial, a Holy Cow, feita em parceria com a turma da Green Flash, de San Diego, EUA.

Da própria Green Flash, experimente a Le Freak, certamente uma das melhores cervejas que já tomei. Aliás, se for aos EUA, simplesmente pergunte em qualquer pub ou liquor store, há um zilhão de grandes opções de IPAs por lá. A Harpoon IPA é um clássico e a Dogfish Head, brilha com a série 60, 90 e 120 Minute IPA que tem respectivamente, 6%, 9% e 12% como graduação alcoólica e ficam por 60, 90 e 120 minutos na panela durante a fervura para adição dos lúpulos (TOC do Sam Calagione deve ser tipo o meu). A Burton Baton, também da Dogfish, é absolutamente fantástica em mesclar um lote de Imperial IPA envelhecido em madeira com outro "jovem". Vale ainda acrescentar a Mikkeller e a Brew Dog, que apesar de serem cervejarias europeias, seguem a escola americana. A Punk IPA e a Hardcore (Imperial) IPA, ambas da Brew Dog, e as diversas opções da Mikkeller (são mais de 130 rótulos!) são opções certas para os lupulomaníacos. Prepare-se, pois são pancadas nos sentidos. A Centennial IPA, da Founders, fica como opção para os mais tradicionais.

Entre as Inglesas, gosto muito da Fuller's India Pale Ale, Hook Norton Haymaker e a Sheppard Neame IPA. Essa última é quase um manual sobre IPAs Inglesas... A da Greene King é mais leve em amargor e substancialmente menos alcoólica (3.6%). Para os "começantes", é com certeza uma opção.

E você acha que acabou? Ainda existem as variações e as experiências... As Belgian IPAs, trazem um maior frescor, com mais carbonatação (gás) e forte presença de lúpulos aromáticos, além de belas misturas de aromas e sabores. Bons exemplos são a Duvel Tripel Hop, que usa mesclas diferentes de lúpulos em cada edição anual (se achar a de 2012, compre todas!) e a francesinha Anosteke. A Viven tem uma Imperial IPA com alma belga que merece visita.

IBA-Try

Black IPA ou IBA (India Black Ale, prefiro essa) são versões escuras destas belezinhas. A presença de malte torrado acentua o amargor e costuma agradar os paladares ansiosos por experiências. Temos uma legitimamente mineira, que foi a primeira do estilo no Brasil: Blackbird da Kud Bier. Trata-se de um estilo mais raro, mas não precisa contratar um detetive, se quiser mais opções, procure as boas casas do ramo no Beer Maps.

E entre as experiências, tenho que citar a Maracujipa, da 2 Cabeças, que ao invés do tradicional Dry Hopping, usa polpa de maracujá, modificando de forma definitiva a bela cerveja. Apesar do que pode parecer, com 75 IBU e 7.5% de ABV, essa não é uma "cervejinha de fruta". Assim, sem preconceitos por favor!

Bom, como todo bom causo, a prosa se esticou e acho que já deixei algumas boas dicas para vocês experimentarem. Vão lá e voltem (pleeeaaassseeeeee!), para continuarmos viajando nesse fantástico mundo, que tal? E não se esqueçam de comentar bastante aí em baixo!

BeerWall

Saúde!!

Rodrigo Garcia Marques
garciaspub@gmail.com
@rgmarques

Cervejas Especiais 101

Beer101

Como meu primeiro post na retomada do blog (agora temático, falando de cervejas!!), resolvi fazer um resumão sobre o universo das cervejas especiais. Especiais para nós, Brasileiros, porque em outros lugares do mundo, elas são apenas cervejas... Isso vem da cultura da cerveja de massa, implantada em nosso país há tempos, além de empecilhos tributários, fiscais e burocracia que sempre mantiveram os cervejeiros "alternativos" escondidos, enquanto as Brahmas, Antarticas e Skóis reinavam nos botequins do nosso Brasil varonil. Bom, esse tempo passou (graças a Deus) e hoje uma avalanche de cervejas diferentes chega até nós, seja por importação ou pelo esforço de pessoas e empresas que se apaixonaram pelo mundo destas bebidas tão (afinal elas são) especiais.

E é por esse mundo que quero incentivar vocês a viajarem. Para isso, tentarei compartilhar um pouco do que aprendi metendo meu nariz (literalmente) nos copos e garrafas que tive a chance de colocar as mãos. Sem mais delongas, sirva um copo e vamos começar!

PourGlass

Primeiro as primeiras coisas: Tipos de Cervejas. Você certamente já ouviu falar das cervejas Pilsen, certo? Bocks, Malzibier e outros também circulam há bastante tempo por aqui. Mas como diabos funciona isso? Classificamos as cervejas primariamente em dois tipos: LAGER e ALE. A segmentação está ligada ao tipo de levedura usada no processo de fermentação. E como essa escolha influencia de forma crucial o produto final, comecemos por aqui. Via de regra (sempre há exceções, guardem essa informação...) as LAGERS serão cervejas menos complexas e mais leves que as ALES. Porém não confundam isso com qualidade, ou com ser melhor ou pior, mais cara ou barata... São apenas características. Teremos cervejas boas e ruins em todos os grupos. Melhor ou pior, é algo que apenas você poderá concluir, dado que gosto é sempre pessoal. E o preço, vai depender de uma infinidade de fatores, assim vamos devagar.

Muito bem, separamos os supergrupos. Daqui para baixo, você vai encontrar fontes diferentes, com divisões diferentes. Uns vão separar por famílias de país de origem (do estilo) como as Inglesas, Alemãs, Belgas. Alguns vão colocar as Americanas em grupo próprio, outros vão classificá-las junto com as Inglesas. Pode-se também partir diretamente para as grandes famílias de estilos e ir desdobrando depois. Referência oficial? O Guia de Estilo do BJCP é o mais perto que você vai chegar disso, mas há muita informação lá, assim vou ficar com o meu jeito de separar o mundo. Como dizia Da Vinci, a Simplicidade é a máxima sofisticação.

BeerMap

Particularmente, gosto muito da separação por país de origem do estilo. É uma aproximação grosseira e simplificada, mas é bastante útil, especialmente no começo. Também enxergo essa divisão como uma espécie de "escada" para quem está começando. Apesar dessa ser uma analogia grosseira, dada a enorme variedade de estilos dentro de cada "família", é uma maneira de começar a entender esse mundo complexo. Além do que, quem manda aqui nesse artigo sou eu, assim vamos lá!

Alemãs

GermanWaitress
Vê se aprende com ela MULHER!!!

Oferta bastante rica de estilos, porém com alguma uniformidade, reflexo da "Lei de Pureza Alemã" (Reinheitsgebot), que limitava os ingredientes da cerveja ao básico: água, malte (cevada ou trigo) e lúpulo. Tem larga oferta de cervejas leves (tanto em álcool quanto em amargor), focadas em Drinkability dada a cultura local de sorver quantidades industriais do líquido. Acho que é uma boa para quem queira começar a explorar, principalmente as cervejas de trigo claras (Weissbier) e as Munich Helles ou Pilsners alemãs. Licher e Schneider são exemplos de Weiss, enquanto a Bamberg Helles é uma ótima nacional representante do segundo grupo. Hofbräu Original e Paulaner Münchner Hell são algumas primas germânicas.

Inglesas

KeepCalmDrinkEnglishBeer
Os caras são bons de Rock, futebol e cerveja… Vamos respeitar…

A família das inglesas abraça cervejas mais elaboradas, apesar de algumas tão ou mais leves que as alemãs (lembrem-se, SEMPRE há exceções). Os principais sub-estilos aqui são: Pale Ale e Milds (introdutórios, por assim dizer); Bitter e Brown Ale (intermediários); IPA (India Pale Ale), Old Ale, Porters e Stouts (mais parrudos). São cervejas mais focadas em sabor que aromas, mas é sem dúvida a minha família favorita. Menção importante aqui, são as variantes americanas. Você vai encontrar American Pale Ales e outras adaptações. Isso é válido, pois os americanos pegaram as características dos estilos originais e modificaram, de forma consistente, acrescentando amargor e mesclando lúpulos de aroma, criando novos sub-estilos. Eles também fizeram interpretações de estilos da próxima família (Belgas), mas a "intervenção" nesse grupo foi mais consistente. Sugiro conhecer toda a família da Hook Norton e Fuller's, são fáceis de encontrar por aí. Para as americanas, procure pelas cervejas da Brooklin Brewery, Anderson Valley e Rogue, também mais presentes no mercado nacional.

Belgas

MonksBeer
Mesmo os ateus curtem esse braço da igreja…

As Belgas são uma família toda especial e com certeza merecerão futuros posts dada a riqueza cultural e a variedade de estilos. Por hora, vamos dizer que as cervejas belgas são, em sua maioria (HÁ EXCEÇÕES, lembra?), mais fortes e complexas. Podemos destacar, simplificando, os estilos Witbier (cervejas de trigo); Golden e Dark Ales (literalmente claras e escuras, com as variantes Strong Dark e Strong Golden, mais parrudas); os estilos trapistas ou de abadia (Dubbel, Tripel, Quadrupel) e as Christimas Ales (cervejas especiais, complexas e sazonais, feitas para as festas de natal). Como complemento, temos as cervejas champanhe (feitas em processo semelhante aos espumantes/champanhes), Lambics (voltaremos aqui em outro post, com certeza) e as cervejas com/de frutas (geralmente adocicadas). Experimente as trapistas tradicionais (La Trappe, Westmalle, Chimay e Rochefort são mais comuns por aqui) e outras como Duvel, Tripel Karmeliet, St. Feuillien e St. Bernardus.

Bom gente, a coisa já ficou grande e só começamos a beliscar o assunto... Que tal vocês tomarem algumas cervejas, pesquisarem um pouco por aí e comentarem bastante aí embaixo? Das perguntas e sugestões podemos criar as próximas pautas para nossa viagem ao mundo das cervejas!

BeerWall2

Saúde!!

Rodrigo Garcia Marques
garciaspub@gmail.com
@rgmarques