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Recomeçando o blog falando de Cervejas!
Se surgirem outros assuntos, resolvemos depois!
Há algum tempo, pipocaram pela mídia notícias sobre o Presidente Barack Obama produzindo sua própria cerveja e servindo-a em eventos especiais na casa branca ou durante a campanha presidencial de 2012. O Huffington Post tem até uma TAG Obama Beer para arquivar as notícias ligadas ao tema. Quem olhou com mais atenção reparou que as receitas são de dois tipos: Honey Ale e Honey Porter. Há também produção de Honey Blonde Ale e Honey Brown, mas estas duas não tiveram as receitas publicadas. Antes que a oposição se manifeste, o presidente Obama comprou o kit de Homebrewing com recursos próprios, e pediu à equipe de cozinheiros da Casa Branca que o ajudasse na produção da cerveja. A escolha do mel como ingrediente comum em todas as receitas, vem do fato que a primeira dama, Michelle Obama, tem um apiário nos fundos da mansão presidencial americana, assim trata-se de uma "criação conjunta".
E ele nem é o primeiro presidente a se dedicar ao hobby de produzir sua própria cerveja. Os Founding Fathers George Washington (1º presidente americano), Thomas Jefferson (o 3º e principal autor da constituição) e James Madison (o 4º) também eram cervejeiros caseiros. A Biblioteca Pública de NY tem uma receita escrita a mão por Washington em pessoa, datada de 1757... O máximo que temos por aqui é o boato (estapafúrdio, diga-se de passagem) que a SKOL tem esse nome por uma negociação com o então presidente, Juscelino Kubitschek, que teria exigido que a cerveja se chamasse assim em homenagem a sua esposa Sarah Kubitschek de OLiveira (SKOL)... Tsc tsc...
OK, voltemos à Honey Ale do Obama... Você pode estar se perguntando: Que diabos se parece uma cerveja com mel na fórmula? E como faço para por a mão numa caixinha da OBrahma? (Terrível, me perdoem...) Bom, para experimentar a Honey Ale Presidencial, você precisa ter os contatos (me manda uma também, por favor!) mas para conhecer uma Honey Beer, você tem outras opções...
De forma geral, as Honey Beers são classificadas como Specialty Beers, que são cervejas com componentes não típicos nas fórmulas de cervejas e que não se encaixem bem em outro estilo. Dentro desse conjunto, você vai encontrar inúmeras opções, ultra heterogêneas entre si, como as Ginger Ales (cervejas com gengibre, não o refrigerante), cervejas com chocolate, doce de leite, boldo e várias outras estranhezas... Ah, você duvida? Então toma! A Rugbeer O'Driscoll é a "ginger ale oficial de Minas Gerais", feita pelo João Becker, hoje cervejeiro na Colorado. E tivemos, aqui em Minas, nos idos de 2011, um concurso da AcervA Mineira, que premiou na categoria Estilo Livre, brejas que homenagearam o legítimo espírito mineiro! E assim vieram cervejas com doce de leite, boldo, fumo de rolo, carqueja e outras insanidades... Isso sem falar na pérola Dado Bier Double Chocolate Stout, que leva chocolate 70% cacau da Kopenhagen (:-O)...
Mas deixando isso para depois e voltando ao mel, a mesma Colorado citada possui uma cerveja bastante interessante. Leve para os iniciados, a Colorado Appia é uma experiência para quem busca começar a navegar por estes mundos. E combina bem com um dia de sol, bem gelada na beira da piscina. Quem gostar da experiência, pode continuar a viagem com a Fuller's Organic Honey Dew, que segue a mesma proposta: refrescância com um "que" especial.
Outro gancho interessante da Honey Ale presidencial é o fato de que o presidente dos EUA resolveu fazer cerveja... Será que ele não tinha nada mais para fazer? O ponto é que o Homebrewing pode ser um hobby interessante desde que você tenha algum espaço em casa/apartamento, uma esposa/mãe tolerante (mandatório...) e algumas horas por semana para se dedicar a isso. E o investimento inicial não é nada proibitivo. Você pode partir com uma "produção na panelinha" ou com kits mais elaborados, alguns inclusive vem "prontos para começar". Vários sites contém dicas com equipamentos, receitas e fornecedores de suprimentos que você vai precisar, outros comercializam kits prontos para quem está com pressa para começar. Confie no Google e procure saber se sua cidade/estado já tem uma AcervA, que pode te ajudar a começar e sugerir caminhos para quem queira melhorar sua produção. A nossa AcervA Mineira está aqui. Lá no blog deles há links para várias outras associações de outros estados!
E aí, se interessou pelas Specialty Beers? Experimente algumas e traga sua opinião para o nosso buteco!
Prefere arriscar a fazer a sua? Me mande uma garrafa e faça um novo amigo!
E enquanto isso, continuemos a conhecer esse universo das cervejas especiais!
Até o próximo post!
Saúde!
Rodrigo Garcia Marques
@rgmarques
garciaspub@gmail.com
Como bão mineiro, resolvi seguir com um post sobre uma estória, ou causo como chamamos por aqui, da cultura cervejeira. Algumas dessas histórias deram origem a estilos de cerveja, outras povoam as mesas de bar do mundo todo. Nem todas são totalmente verídicas, mas o que vale num causo é a diversão que ele proporciona, não a quantidade de verdade contida ali...Assim, vamos lá!
Muita gente costuma ter o estilo IPA como um dos seus preferidos (eu, inclusive). E pra quem está chegando, a pergunta clássica quando recebe a indicação de "beber uma IPA", é: que diabos é isso? Bom, IPA é a sigla para India (e não Indian) Pale Ale. Geralmente se apresenta com graduação alcoólica mais alta que as Pale Ales regulares, lupulagem significativamente destacada. A cor geralmente fica entre o marrom claro e um âmbar mais avermelhado, muitas vezes se apresenta com um tipo de alaranjado. O Guia de Estilo do BJCP tem todos os detalhes técnicos da coisa, mas nosso foco aqui são os causos, certo?
A história é que durante a ocupação britânica na Índia, um dos problemas presentes era manter o suprimento de cerveja para as tropas. Produzir lá era impossível, não havia cultura cervejeira local e os barris estragavam durante a viagem de navio, complicando a "exportação". Os ingleses então começaram a testar uma nova receita, com propriedades específicas que supostamente suportaria a viagem até a Índia. A teoria é que, com um grande teor alcoólico e maior carga de lúpulo, a cerveja teria uma maior resistência à contaminação bacteriana e, portanto, uma durabilidade maior, para resistir à dura viagem até a colônia. George Hodson, da Bow Brewery em Londres teria sido o primeiro a produzir uma receita no estilo e se tornou uma referência, mantendo um suposto monopólio por uma ou duas décadas.
Uma hipótese concorrente é que a proposta era apenas produzir uma versão mais "concentrada" das Pale Ales tradicionais, que deveria ser diluída no destino, facilitando o transporte de um menor volume de cerveja. Uma vez entregue no destino, os comandantes militares teriam experimentado a cerveja original e reservado para si alguns barris, para consumo sem diluição. Posteriormente, ao regressar para a Inglaterra, estes buscariam receitas semelhantes, criando a demanda para uma Pale Ale mais parruda e "caprichada".
Há controvérsias sobre ambas histórias, com argumentos que a graduação alcoólica não é tão mais alta assim (hoje isso é verdade, na época só o Dorian Gray pode confirmar) e que a carga de lúpulo necessária para fazer a diferença teria que ser muito maior (acho que os americanos estão tentando fazer isso!), mas é fato que não conhecemos as fórmulas criadas na época para termos provas científicas.
De qualquer maneira, as IPAs são queridas dos cervejeiros. Há várias opções brasileiras de qualidade e diversas importadas já aportaram nas nossas praias. Dentre as brasileiras, a Colorado Indica é uma das mais famosas, oscilou entre brilhante e regular nos últimos anos, mas certamente merece a visita. Há uma versão mais parruda, estilo que denominamos Imperial IPA, a Colorado Vixnu, para quem quiser se aventurar.
Outras boas pedidas tupiniquins são a Backer Pele Vermelha (séria 3 Lobos Extreme) com seu aroma de casca de laranja, a Dama Bier Indian Lady (ambas IPAs Honestas e com excelente custo/benefício) e a Seasons Green Cow IPA, que também tem uma irmã imperial, a Holy Cow, feita em parceria com a turma da Green Flash, de San Diego, EUA.
Da própria Green Flash, experimente a Le Freak, certamente uma das melhores cervejas que já tomei. Aliás, se for aos EUA, simplesmente pergunte em qualquer pub ou liquor store, há um zilhão de grandes opções de IPAs por lá. A Harpoon IPA é um clássico e a Dogfish Head, brilha com a série 60, 90 e 120 Minute IPA que tem respectivamente, 6%, 9% e 12% como graduação alcoólica e ficam por 60, 90 e 120 minutos na panela durante a fervura para adição dos lúpulos (TOC do Sam Calagione deve ser tipo o meu). A Burton Baton, também da Dogfish, é absolutamente fantástica em mesclar um lote de Imperial IPA envelhecido em madeira com outro "jovem". Vale ainda acrescentar a Mikkeller e a Brew Dog, que apesar de serem cervejarias europeias, seguem a escola americana. A Punk IPA e a Hardcore (Imperial) IPA, ambas da Brew Dog, e as diversas opções da Mikkeller (são mais de 130 rótulos!) são opções certas para os lupulomaníacos. Prepare-se, pois são pancadas nos sentidos. A Centennial IPA, da Founders, fica como opção para os mais tradicionais.
Entre as Inglesas, gosto muito da Fuller's India Pale Ale, Hook Norton Haymaker e a Sheppard Neame IPA. Essa última é quase um manual sobre IPAs Inglesas... A da Greene King é mais leve em amargor e substancialmente menos alcoólica (3.6%). Para os "começantes", é com certeza uma opção.
E você acha que acabou? Ainda existem as variações e as experiências... As Belgian IPAs, trazem um maior frescor, com mais carbonatação (gás) e forte presença de lúpulos aromáticos, além de belas misturas de aromas e sabores. Bons exemplos são a Duvel Tripel Hop, que usa mesclas diferentes de lúpulos em cada edição anual (se achar a de 2012, compre todas!) e a francesinha Anosteke. A Viven tem uma Imperial IPA com alma belga que merece visita.
Black IPA ou IBA (India Black Ale, prefiro essa) são versões escuras destas belezinhas. A presença de malte torrado acentua o amargor e costuma agradar os paladares ansiosos por experiências. Temos uma legitimamente mineira, que foi a primeira do estilo no Brasil: Blackbird da Kud Bier. Trata-se de um estilo mais raro, mas não precisa contratar um detetive, se quiser mais opções, procure as boas casas do ramo no Beer Maps.
E entre as experiências, tenho que citar a Maracujipa, da 2 Cabeças, que ao invés do tradicional Dry Hopping, usa polpa de maracujá, modificando de forma definitiva a bela cerveja. Apesar do que pode parecer, com 75 IBU e 7.5% de ABV, essa não é uma "cervejinha de fruta". Assim, sem preconceitos por favor!
Bom, como todo bom causo, a prosa se esticou e acho que já deixei algumas boas dicas para vocês experimentarem. Vão lá e voltem (pleeeaaassseeeeee!), para continuarmos viajando nesse fantástico mundo, que tal? E não se esqueçam de comentar bastante aí em baixo!
Saúde!!
Rodrigo Garcia Marques
garciaspub@gmail.com
@rgmarques