sábado, 23 de novembro de 2013

A Escola Inglesa

Na dúvida de por onde começar, fiquei com o meu coração. A escola Inglesa é a minha preferida, apesar da forte disputa com a Belga, assim esperem opiniões extremamente apaixonadas aqui, ok? Bom, comecemos do começo. Do que se trata a escola Inglesa? Como falamos aqui, a escola apresenta uma gama considerável de opções, desde cervejas mais leves até fortes pancadas nos sentidos. Mas os vários estilos que compõem esta família, apresentam, em sua maioria, um destaque maior nos sabores do que em aromas.
 

Para falar de cerveja inglesa, temos que começar pelas Pale Ales. Simplesmente, uma Ale clara (pale) o estilo é na verdade um oceano de variedades. Variam em cores desde o amarelo pálido até versões não tão "pales" assim. Apresentam uma variação bastante ampla também de amargor e carga de malte. É, na verdade, mais uma "super categoria" do que um estilo propriamente dito. Mas há grandes cervejas classificadas assim e este costuma ser o primeiro estilo que os cervejeiros caseiros costumam experimentar em suas panelas e micro-fábricas, além de ser ótimo para começar a conhecer as brejas britânicas... Então não deixe de experimentar todas que puder! Grandes surpresas o esperam... Eu prometo! Para citar duas famosas, experimente a Old Speckled Hen e a Abbot Ale. Ambas são classificadas como ESB's em alguns sites, mas podem ser também encaixadas aqui. Além disso, há versões "da casa" em vários brew pubs pelo mundo todo. Procure e traga pra cá a sua experiência!
 
As Brown Ales, são versões mais escuras das Ales Inglesas. Geralmente levam mais malte em sua composição (que resulta na cor mais escura) e variam bastante, mas são geralmente menos alcóolicas e mais adocicadas. A Newcastle é um ícone do estilo, e pode ser encontrada com facilidade no Brasil.
 
Se no início (lá pelos anos 1500) os cervejeiros ingleses rechaçaram os lúpulos, importados principalmente da Holanda, nos anos que se seguiram, eles se tornaram as vedetes dos estilos ingleses, resultando nas tradicionalíssimas English Bitter Ales, uma derivação mais lupulada das Pale Ales. Estas se subdividem entre as "simplesmente" Bitters (Ordinary), Special Bitters (mais corpo, malte e lupulagem mais agressiva) e as Extra Special Bitters, ou ESB's, carregadas no corpo, malte e lúpulo nas píncaras e complexidade de sabor e aroma diferenciados. As cervejarias britânicas tradicionais vão apresentar várias opções nestes estilos, recomendo experimentar a Fuller's ESB e a London Pride, um ícone britânico. A Old Golden Hen, da Greene King é também uma boa opção. Todas estão disponíveis no Brasil, por importação, nas melhores casa do ramo.
 
 
Nos idos de 1700, começam a bombar em Londres dois novos estilos de cerveja, a Porter (escura) e a India Pala Ale (IPA). Se já temos um post para a IPA (que é classificada na família das Bitters), devido à história que a cerca, vamos falar um pouco mais sobre as Porters. Elas podem ser simplesmente divididas entre as Brown Porters, mais "suaves" (cuidado com a expectativa, são cervejas parrudas!) e as Robust Porters, que trazem toda a potência do estilo. Porters são escuras (às vezes de um vermelho escuro), com muito corpo. Costumam mesclar um dulçor de malte com forte presença de lúpulos e, portanto, amargor. Chocolate amargo e café são aromas esperados nas integrantes do estilo. Novamente a Fuller's tem uma grande opção para começar a conhecer a família, a London Porter.
 
Da Porter, os cervejeiros evoluíram para as Stout Porters, versões extra-fortes da morena inglesa. Posteriormente surgiram outros subestilos. A Dry Stout se popularizou no mundo pela Guinness. É uma cerveja mais seca, com menos corpo, resultando numa Drinkability surpreendente (já tomei 13 Pints numa única noite, apesar de não recomendar que você tente fazer isso em casa). As Foreign Stouts, são versões extra-fortes da Dry Stout. A Guinness tem uma versão Extra Export Stout, menos comum mas também presente no Brasil. A Sweet Stout, reforça os aromas de chocolate e caramelo da cerveja e é o estilo de Stout mais característico na Inglaterra. A Oatmeal Stout (ou Farm Stout), acrescenta Aveia ao Sweet Stout, resultando em uma cerveja com muiiiiittttooooo mais corpo, que geralmente tem a graduação alcóolica e o sabor também intensificados. Você encontra representantes destes últimos dois estilos geralmente bem identificadas no rótulo. Finalmente, fechamos com as Imperial Stouts, extremamente alcóolicas (chegam a 12% ou 14%) amargas, com sabores e aromas intensos e muito corpo. Algumas são denominadas Russian Imperial Stouts, alusão ao foco de exportação destas para a Rússia, pelo apreço destes por bebidas fortes. A DUM Cervejaria produz uma pérola deste estilo, a Petroleum (que tem alguns lotes feitos pela Wals também) e a Colorado produz a Ithaca, uma das melhores cervejas que já tomei. Ambas imperdíveis.
 
 
Para fechar, temos que citar as Old (ou Vintage) Ales, cervejas fortes e maltadas, que costumam apresentar grande complexidade de sabor e aromas, verdadeiras pérolas. Não são para os fracos nem para os iniciantes, mas grandes experiências para os apreciadores do estilo. A definição do estilo se mistura com as Barley Wines (literalmente, vinhos de cevada). Deixe para o final da noite, na maioria dos casos e harmonize com um tira gosto parrudo (queijos fortes ou comidas picantes) e seja feliz! Hen's Tooth, Strong Suffolk Vintage Ale, Old Crafty Hen, Abbot Reserve e a impagável Thomas Hardy's Ale, são exemplos fantásticos do estilo.
 
Há outros estilos "menos importantes" (com aspas, por favor), seja por terem decaído ao longo do tempo, pela aparente simplicidade (comparados aos outros) ou simplesmente pela falta de opções, tornando-os quase "estilos-nicho". Mas creio que caiba citá-los aqui, para dar uma ampla cobertura ao tema. O primeiro são as Milds, literalmente cervejas mais suaves. Podem ser interessantes para os iniciantes e como curiosidade, mas não tenho muitas delas na minha lista de prediletas. As Cream Ales, estilo aparentemente Irlandês, representado pela bela Wexford Irish Cream Ale, se misturam com as Golden Ales, numa espécie de variação marqueteira (ou mais técnica, para os amantes do BJCP) das Pale Ales. Há muitos nomes, mas como a coisa já ficou grande demais, paremos por aqui.
 
A título de curiosidade, falando de cerveja inglesa, cabe mencionar o movimento Campaign for Real Ale (CAMRA). Ele começou em 1971 como uma organização voluntária de quatro ingleses revoltados com o domínio do mercado por cervejarias de massa, produzindo cerveja de baixa qualidade e sem sabor ou aroma. Hoje em dia o movimento é controverso, já que ele propõe que as cervejas tem que ser servidas no barril em que são fermentadas, o que dificulta a refrigeração e inviabiliza processos industriais como a carbonatação artificial, pasteurização e filtragem. É o processo tradicional de produção e realmente mantém a cerveja com mais sabor e aroma, perdidos na filtragem e na pasteurização, mas inviabiliza transportes a longas distâncias e reduz drasticamente a resistência da cerveja ao tempo. Como há cervejas industriais inglesas de alta qualidade, a real necessidade deste tipo de "radicalismo" é contestada por muitos, mas não deixa de ser uma iniciativa interessante, não é? Quem dera tivéssemos algo remotamente semelhante aqui...
 
 
Bom, e aí, gostaram da viagem? Anotaram as sugestões? Não se assustem com a aparente variedade, experimentando de uma em uma chegamos lá! E continuamos depois com mais uma "perna" da nossa volta ao mundo em incontáveis cervejas!
 
Um Abraço!
 
Rodrigo Garcia Marques

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