segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Causos Cervejísticos – IPA (India Pale Ale)

LibertasBãoTamém

Como bão mineiro, resolvi seguir com um post sobre uma estória, ou causo como chamamos por aqui, da cultura cervejeira. Algumas dessas histórias deram origem a estilos de cerveja, outras povoam as mesas de bar do mundo todo. Nem todas são totalmente verídicas, mas o que vale num causo é a diversão que ele proporciona, não a quantidade de verdade contida ali...Assim, vamos lá!

IPA

Muita gente costuma ter o estilo IPA como um dos seus preferidos (eu, inclusive). E pra quem está chegando, a pergunta clássica quando recebe a indicação de "beber uma IPA", é: que diabos é isso? Bom, IPA é a sigla para India (e não Indian) Pale Ale. Geralmente se apresenta com graduação alcoólica mais alta que as Pale Ales regulares, lupulagem significativamente destacada. A cor geralmente fica entre o marrom claro e um âmbar mais avermelhado, muitas vezes se apresenta com um tipo de alaranjado. O Guia de Estilo do BJCP tem todos os detalhes técnicos da coisa, mas nosso foco aqui são os causos, certo?

A história é que durante a ocupação britânica na Índia, um dos problemas presentes era manter o suprimento de cerveja para as tropas. Produzir lá era impossível, não havia cultura cervejeira local e os barris estragavam durante a viagem de navio, complicando a "exportação". Os ingleses então começaram a testar uma nova receita, com propriedades específicas que supostamente suportaria a viagem até a Índia. A teoria é que, com um grande teor alcoólico e maior carga de lúpulo, a cerveja teria uma maior resistência à contaminação bacteriana e, portanto, uma durabilidade maior, para resistir à dura viagem até a colônia. George Hodson, da Bow Brewery em Londres teria sido o primeiro a produzir uma receita no estilo e se tornou uma referência, mantendo um suposto monopólio por uma ou duas décadas.

Ships

Uma hipótese concorrente é que a proposta era apenas produzir uma versão mais "concentrada" das Pale Ales tradicionais, que deveria ser diluída no destino, facilitando o transporte de um menor volume de cerveja. Uma vez entregue no destino, os comandantes militares teriam experimentado a cerveja original e reservado para si alguns barris, para consumo sem diluição. Posteriormente, ao regressar para a Inglaterra, estes buscariam receitas semelhantes, criando a demanda para uma Pale Ale mais parruda e "caprichada".

Há controvérsias sobre ambas histórias, com argumentos que a graduação alcoólica não é tão mais alta assim (hoje isso é verdade, na época só o Dorian Gray pode confirmar) e que a carga de lúpulo necessária para fazer a diferença teria que ser muito maior (acho que os americanos estão tentando fazer isso!), mas é fato que não conhecemos as fórmulas criadas na época para termos provas científicas.

De qualquer maneira, as IPAs são queridas dos cervejeiros. Há várias opções brasileiras de qualidade e diversas importadas já aportaram nas nossas praias. Dentre as brasileiras, a Colorado Indica é uma das mais famosas, oscilou entre brilhante e regular nos últimos anos, mas certamente merece a visita. Há uma versão mais parruda, estilo que denominamos Imperial IPA, a Colorado Vixnu, para quem quiser se aventurar.

IPA-Try

Outras boas pedidas tupiniquins são a Backer Pele Vermelha (séria 3 Lobos Extreme) com seu aroma de casca de laranja, a Dama Bier Indian Lady (ambas IPAs Honestas e com excelente custo/benefício) e a Seasons Green Cow IPA, que também tem uma irmã imperial, a Holy Cow, feita em parceria com a turma da Green Flash, de San Diego, EUA.

Da própria Green Flash, experimente a Le Freak, certamente uma das melhores cervejas que já tomei. Aliás, se for aos EUA, simplesmente pergunte em qualquer pub ou liquor store, há um zilhão de grandes opções de IPAs por lá. A Harpoon IPA é um clássico e a Dogfish Head, brilha com a série 60, 90 e 120 Minute IPA que tem respectivamente, 6%, 9% e 12% como graduação alcoólica e ficam por 60, 90 e 120 minutos na panela durante a fervura para adição dos lúpulos (TOC do Sam Calagione deve ser tipo o meu). A Burton Baton, também da Dogfish, é absolutamente fantástica em mesclar um lote de Imperial IPA envelhecido em madeira com outro "jovem". Vale ainda acrescentar a Mikkeller e a Brew Dog, que apesar de serem cervejarias europeias, seguem a escola americana. A Punk IPA e a Hardcore (Imperial) IPA, ambas da Brew Dog, e as diversas opções da Mikkeller (são mais de 130 rótulos!) são opções certas para os lupulomaníacos. Prepare-se, pois são pancadas nos sentidos. A Centennial IPA, da Founders, fica como opção para os mais tradicionais.

Entre as Inglesas, gosto muito da Fuller's India Pale Ale, Hook Norton Haymaker e a Sheppard Neame IPA. Essa última é quase um manual sobre IPAs Inglesas... A da Greene King é mais leve em amargor e substancialmente menos alcoólica (3.6%). Para os "começantes", é com certeza uma opção.

E você acha que acabou? Ainda existem as variações e as experiências... As Belgian IPAs, trazem um maior frescor, com mais carbonatação (gás) e forte presença de lúpulos aromáticos, além de belas misturas de aromas e sabores. Bons exemplos são a Duvel Tripel Hop, que usa mesclas diferentes de lúpulos em cada edição anual (se achar a de 2012, compre todas!) e a francesinha Anosteke. A Viven tem uma Imperial IPA com alma belga que merece visita.

IBA-Try

Black IPA ou IBA (India Black Ale, prefiro essa) são versões escuras destas belezinhas. A presença de malte torrado acentua o amargor e costuma agradar os paladares ansiosos por experiências. Temos uma legitimamente mineira, que foi a primeira do estilo no Brasil: Blackbird da Kud Bier. Trata-se de um estilo mais raro, mas não precisa contratar um detetive, se quiser mais opções, procure as boas casas do ramo no Beer Maps.

E entre as experiências, tenho que citar a Maracujipa, da 2 Cabeças, que ao invés do tradicional Dry Hopping, usa polpa de maracujá, modificando de forma definitiva a bela cerveja. Apesar do que pode parecer, com 75 IBU e 7.5% de ABV, essa não é uma "cervejinha de fruta". Assim, sem preconceitos por favor!

Bom, como todo bom causo, a prosa se esticou e acho que já deixei algumas boas dicas para vocês experimentarem. Vão lá e voltem (pleeeaaassseeeeee!), para continuarmos viajando nesse fantástico mundo, que tal? E não se esqueçam de comentar bastante aí em baixo!

BeerWall

Saúde!!

Rodrigo Garcia Marques
garciaspub@gmail.com
@rgmarques

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